Hipocrisia é pouco... - Avenida Brasil

                    Eu não quero levantar bandeiras e defender causas aqui que eu considero que seriam irrelevantes de se abordar como temas necessários nas novelas, diante de tantas outras coisas que seriam prioridade para se discutir nos dias de hoje. Mas é praticamente impossível ver que temas como violência, crueldade, discriminação social, promiscuidade, poligamia, traição e vingança sejam assuntos tratados com tanta naturalidade, com tamanha aceitação em horário nobre, diante de nossos olhos e com total satisfação, sem em nenhum momento gerar tumultuo na sociedade e também perceber que a Globo reconhecidamente não promove de forma nenhuma um beijo gay nas suas novelas por temer a represália, o preconceito e o ministério público dando em cima de algo tão, digamos...estarrecedor para se mostrar na TV. 

                       Ninguém melhor do que eu ama e assiste a novela "Avenida Brasil" diariamente e acompanha todas as tramas que enredam essa teia de personagens incríveis, mas eu não poderia deixar passar essa observação, que faço ressalva pois não foi minha mas de um amigo,  sem que eu comentasse o que a gente pode constatar que nossa sociedade impõe e dita como correta, como certa. 

           Minha ênfase vem de encontro a tal concordância à poligamia da personagem de Cadinho(Alexandre Borges), em manter três relacionamentos onde todas as mulheres convivem entre conflitos e uniões, em comum acordo amando o mesmo homem e lutando em favor dessa baixaria. Todas elas amam e reconhecem as qualidades do marido, o que ao meu ver, à margem de nossa sociedade tão conservadora à um casal se amar e dar um beijo em frente as câmeras, considerar esse quadrângulo amoroso sem fazer nenhuma, sequer uma manifestação de desaprovação diante do que a estória desses quatro personagens instigam, ensinam e aprovam dentro de nossas casas todas as noites em horário nobre, pra mim é muito perturbador.

                          Enquanto  se vê essa troca-troca de esposas onde todos rimos, fica no anonimato, escondendo o que sente e o que quer, Roniquito (Daniel Rocha)...a criação super dotada de qualidades, que vende bem na loja do pai, que foi super herói da mocinha indefesa, que é craque dentro do time no qual joga, mas que teme que todas suas aptidões, todas suas benfeitorias sejam suprimidas e até mesmo esquecidas no momento em que ele se assumir. E nós contribuímos demais quando somos hipócritas em acreditar que esteja certo ser discreto, ser reservado, somos hipócritas em achar que pegar na mão, fazer um carinho, e até mesmo demonstrar o afeto com um beijo, seja algo que fira mais nossos olhos, e aceitarmos que todas as noites seja visto um homem que engana três mulheres, um rapaz que discrimina o pai pobre, uma garota que sai com todos os rapazes de um bairro deixando claro que é por interesse, uma mulher má que faz de tudo pela ganância e uma menina que se vinga de forma desmedida e descontrolada pelo ódio guardado, e com tudo isso nós ainda consideramos normal, natural e sem nenhuma agressão ao que queremos que seja visto como certo. Me faz pensar muito isso...o que aprendemos com as novelas, que ditam modas e regras? Me faz refletir se realmente estamos fazendo a coisa certa. Nos omitimos de tomar uma decisão, uma contra partida...Nos tornarmos mais atuantes e termos opiniões formadas do que a sociedade nos dita como certo e errado. Fazer isso ou não?